As negociações ainda estão em curso, mas levaram à frigideira uma nova leva de ministros, que temem perder seus respectivos postos em nome da governabilidade. Desde o início de seu terceiro mandato, Lula sabia que, para organizar uma base parlamentar forte na Câmara, precisaria compor com legendas de centro, já que as siglas de esquerda são minoria na Casa. Ao montar sua equipe, o presidente deu três pastas para o MDB, três para o União Brasil e três para o PSD e, assim, acreditou que resolveria o problema. Não deu certo. Sob a influência do comandante da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o Centrão mostrou que projetos prioritários só avançam com os seus votos e, como nunca soube viver na oposição, pediu para participar da base de Lula e apresentou sua fatura: um pedaço do ministério.
O sonho de consumo do grupo era a Pasta da Saúde, chefiada por Nísia Trindade. O pleito ficou sem resposta até que o presidente declarou publicamente que Nísia não era "trocável". Ou seja, não seria substituída. Como alternativa, líderes do Centrão passaram a divulgar outras prioridades, igualmente ambiciosas, como o Ministério do Desenvolvimento Social, que toca o Bolsa Família e os principais programas sociais do governo. Na lista de reivindicações também constam ou constaram o Ministério do Esporte, a presidência da Caixa e o controle da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
Em troca de cargos desse porte, líderes do Centrão dizem que a base governista pode, no mínimo, dobrar de tamanho, passando de 140 para pelo menos 280 deputados. A transação garantiria maioria na Câmara a Lula, que já disse que PP e Republicanos serão contemplados, mas não especificou como. Daí o salseiro na frigideira. Alguém perderá o cargo. Até ministros da cota pessoal do presidente são alvo de especulações.
O PP, por exemplo, apresentou o nome do líder do partido na Câmara, André Fufuca (MA), para comandar o Ministério do Desenvolvimento Social, hoje sob a batuta do petista Wellington Dias. Enquanto o PP insistia no negócio, difundiu-se a versão — de origem desconhecida — de que Lula avaliava negativamente a atuação de Dias na pasta. O ministro ficou sob fogo cruzado por pelo menos duas semanas, até ser tranquilizado. A primeira-dama Rosângela da Silva foi visitá-lo no ministério no último dia 7 e prestou solidariedade: “Aqui é onde o coração do governo realmente pulsa. O trabalho aqui está acontecendo e a realidade do Brasil está mudando a cada dia”. Uma semana depois, o próprio Lula reforçou o coro: “Esse ministério não sai. Saúde não sai. Não é o partido que quer vir que pede ministério. É o governo que oferece ministério”.
Aparentemente blindado, Wellington Dias considera acertada e necessária a estratégia do presidente de fechar uma aliança com o Centrão. Ele afirma que a parceria é uma forma de conseguir estabilidade em suas múltiplas facetas: política, econômica e social. O ministro reagiu com bom humor à fritura. “Eu brinco muito que a política é o lugar que mais tem fuxico. E agora, com o fuxico eletrônico, anda numa velocidade ainda maior”.
Em seguida, subiu um pouco o tom: “Confesso que não é normal quem quer vir para o governo chegar dizendo: ‘Eu quero isso, eu quero aquilo’. O presidente foi transparente: é o Executivo que vai decidir o que pode oferecer”. Responsável pela articulação política do governo, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, se reuniu com os deputados Fufuca e Silvio Costa Filho, do Republicanos, sugeridos por suas legendas para assumir ministérios. Os dois já têm a aprovação do Planalto, mas não sabem quais missões receberão. Seus partidos querem pastas com capilaridade e engrenagens azeitadas para a liberação de emendas parlamentares.